Investigação
O projeto nasce da investigação da paisagem, seus habitantes e sua relação com o território. Mas, o que é um território? É necessário primeiro gerar uma idéia a partir de um quadro teórico. Uma frase marcante foi:
“o território é o cenário, onde os indivíduos socializam-se, constroem suas referencias culturais; por isso o território os afeta. Porém, o processo não acaba assim, os indivíduos apropriam-se do lugar e transformam-no, adaptando-o a seus valores pessoais.”
Dentro deste território diversas formas de habitar e entender as suas diversas paisagens, as quais permitem distinguir certas semelhanças, podendo entender ou agrupar setores em unidades de paisagem. Nestas podem-se encontrar elementos de projeto arquitetônico não tradicionais, que dão um valor ou uma identidade a essa paisagem através de iconografias ou referencias culturais.
Estas referências estão intimamente relacionadas com as formas de habitar e suas economias. Estas são construções espontâneas ou arquitetura sem um acabamento aparente, mas que ao deter-se a observá-las levantam diversas relações com o usuário e a paisagem através de suas materialidades ou na maneira que são construídas.
Dentro da investigação aparecem conceitos relevantes, os quais têm relação com como se pode trabalhar sobre uma paisagem, considerando fatores como:
- cenografia (paisagem)
- atividade (economia)
- volumetria (iconografias ou referências culturais)
Lugar
A obra está localizada a 24km da zona urbana de Coelemu, na costa da oitava região do Chile, em uma pequena comunidade rural (Perales).
O lugar é uma praia rural sem nenhum tipo de infraestrutura, mas uma costa em branco (para dizer o mínimo, já que não tem nenhum uso formal) que está composta por formações rochosas que permitem comtemplar o mar e o céu em todo seu esplendor.
Esta praia tem sua atividade econômica baseada no cultivo de algas, onde um grupo de pessoas -homens, mulheres, e crianças- da zona realizam diariamente o processo de corte e coleta do produto.
Aqui surgem as primeiras observações sobre como se vive nesta paisagem, onde o ato de coleta dá um caráter único de habitar o lugar, entendendo que esta ação traz um passeio, mas ao mesmo tempo, quebras.
Também considera-se como observação o caráter de balneário, ao ser uma das únicas praias da comunidade, aparecendo, então, outros fatores a considerar na forma de morar.
Proposta
A proposta busca criar uma série de pequenas pousadas ou espaços de características monolíticas, os quais situam-se nos cruzamentos de traços do lugar e das diversas atividades que ocorrem ali, tentando entrelaçar as várias formas de habitar da área, na qual reconhece-se, principalmente, três características:
- a do oficio (algueros)
- a do ato da pesca (esportistas)
- a do passeio (visitantes)
Estas pousadas de traços simples não buscam sobressair-se à paisagem, mas sim incorporarem-se a ela, que sempre esteve presente, mas começa a ser reconhecida através destes elementos de volumetria simples.
Entende-se que o projeto não tenta solucionar nenhum tipo de problema da comunidade, nem construir uma obra de grande escala, e sim uma obra pequena, que tenta encontrar uma nova forma de ver e entender o território e a paisagem através da somatório de pequenas paradas ou lugares que conformem uma nova imagem sobre este lugar.
A pausa tem um valor de contemplação em duas escalas, a do território e a do lugar.
Esta característica é conseguida através de uma geometria simples e sem acabamento em seus detalhes. Uma frase define isto, que está no livro de Protótipos no Território, da arquiteta Cazú Zegers:
“são modelos de 1:1 que não buscam o acabamento construtivo da forma: mas são caminhos de exploração, na tentativa de alcançar novas propostas formais.”
A Obra
A obra compõem-se formalmente em seis módulos de concreto de 0,5×0,5x6m, os quais estão dispostos ao longo da costa, permitindo a diferenciação de três zonas:
- um acesso
- lugares de esta intermediários
- remate da obra
A área total construída da obra são 15,75m2 de concreto armado aparente.
Mas, a área do projeto não pode ser dada pela quantidade, tampouco por complexos detalhes, deve ser dada pelas relações que a obra alcança, na concordância com a paisagem e suas formas de habitar.
A Construção
A construção foi realizada com mão-de-obra loca, onde o projeto ajusta-se ao existente; a obra foi pensada desde o início em concreto artesanal aparentes, que manifesta a marca de suas formas em madeira bruta.
Este processo é considerado dessa maneira na intenção de que a passagem do tempo esteja presente na expressão do material, convertendo-se em linguagem dentro do projeto.
A abordagem deste fator dentro da obra busca que esta não se converta em ruína com o passar do tempo, ao contrario, que a obra tenha um processo de acabamento continuo, considerando as condições da costa, onde o concreto captará novas texturas e cores.
A construção foi realizada de modo artesanal mediante uma betoneira e dois caminhões, com um responsável além dos professores.
Apropriação da Obra
No processo de terminar a entender a obra, encontro o livro Arquitetura da Paisagem no Chile, de Fulvio Rossetti, no qual li a seguinte frase:
“o patrimônio natural e a memória cultural para produzir uma linguagem própria, uma preocupação contemporânea.”
Esta frase me faz pensar no projeto, já que, creio que resume minha investigação, sendo minha obra capaz de gerar uma linguagem própria por meio da paisagem.
Seguindo o processo, a volta ao lugar é um processo inevitável, para observar os resultados e como foram as apropriações por parte da comunidade.
Semanas depois, volto pensando em como estará a obra; já que a ultima vez que visitei foi 29 de março de 2011 com o staff de professores da Universidade.
Chegando a obra, vejo uma quantidade de gente que nunca vi antes durante o período que realizei a construção; começo o passeio como mais uma pessoa que encontra a obra no meio de uma praia, e não como o arquiteto do projeto.
Observo alguns sinais de como a obra já é usada, vejo gente comendo, crianças correndo por todos os módulos, gente que ocupa alguns setores para deixar suas ferramentas de trabalho enquanto realizam a coleta de mariscos e algas.